Vitória do Hamas: extremistas no poder
Posted: 26 Jan 2006 18:19
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SP!Ruas palestinas tomadas de verde para celebrar a vitória do Hamas
"Deus está com o Hamas", grita, olhando para o céu, um grupo de mulheres completamente cobertas com véus no centro de Ramallah, onde milhares de pessoas celebraram nesta quinta-feira a vitória do grupo extremista islâmico nas eleições legislativas palestinas.
O Hamas conquistou a maioria absoluta no Parlamento, ao obter 76 assentos de um total de 132, contra 43 cadeiras do Fatah, segundo a Comissao Eleitoral. A praça Al-Manara, coração da cidade cisjordana de Ramallah se vestiu de verde, a cor do Hamas, depois da oração da tarde na mesquita de El-Bireh. Famílias inteiras e centenas de jovens militantes com bandeiras, gorros do movimento e grandes fotografias de seus "mártires" se uniram à manifestação da vitória. "Nos sentimos felizes, pois sempre acreditamos na vitória. O Hamas quer acabar com a pobreza deste povo, a falta de trabalho e de liberdade", assegura, muito animado, Ahmad Quran, militante do grupo extremista que acaba de sair de uma prisão israelense, onde cumpriu pena de quatro anos.
Vários homens armados atiraram para o alto no momento em que um alto-falante cita os mortos da causa palestina, começando pelo xeque Ahmed Yassin, líder espiritual do Hamas, assassinado por Israel em 2004, Abdelaziz Rantissi, outro líder também eliminado em um ataque meses depois, e Yasser Arafat, líder emblemático dos palestinos e do Fatah, falecido em novembro de 2004.
"Não queremos nos separar dos palestinos que não votaram em nosso grupo. Nossa vitória também é sua vitória. Hoje todos devemos estar felizes", clama Ahmad Mubarak, um des candidatos do Hamas em Ramallah. Os gritos de "Alá é maior!" e "Hamas vitorioso nas eleições" só foram interrompidos para a entoação de um hino em homenagem ao xeque Yassin.
"A comunidade internacional tem que entender que o Hamas nos ajudará a lutar por algo que nos pertence. A Europa pode ameaçar não dar mais dinheiro para nós, mas este dinheiro não faz falta porque Deus está conosco", alega a advogada Suhair Bileh.
Por um momento, jovens do Fatah, visivelmente irritados com a derrota do partido, tentam sabotar a manifestação festiva. Eles jogam pedras e insultam os participantes, mas recebem uma sonora vaia e são rapidamente afastados do local por membros do Hamas.
"Desde a morte de Abu Ammar (como Arafat era chamado pelos palestinos), o Fatah entrou em uma decadência total e Abu Mazen (apelido de Abbas) ainda não nos trouxe nada positivo", lamenta o comerciante Mahmud Salam. Ele explica que sempre votou no Fatah, mas que na quarta-feira apoiou o Hamas nas urnas.
Na sede do Parlamento, alguns simpatizantes do movimento extremista trocaram a bandeira palestina por uma do Hamas, mas foram expulsos do local pelas tropas de segurança. "Os Estados Unidos e a Europa são responsáveis em parte por esta vitória, pois nos abandonaram e só defenderam os direitos de Israel", critica Samia, mãe de família com um bebê nos braços.
As celebrações também foram registradas em Nablusa, norte da Cisjordânia, e em diversos pontos da Faixa de Gaza. "Queremos voltar às terras de nossos avós que foram ocupadas pelos judeus e queremos rezar em Jerusalém sem que um soldado impeça a nossa passagem. O Hamas vai nos ajudar", afirma Manal, uma jovem estudante antes de se perder entre as bandeiras verdes pelas ruas de Ramallah.
AFP